sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A revelação do Belo

O Amor é um demônio,

divindade intermediária entre os deuses e os homens, filho de Expediente e de Pobreza,nascido no mesmo dia em que nasceu Afrodite. Ele é, ao mesmo tempo, belo e pobre,arguto e audacioso, de sua mãe herdou a instabilidade, de seu pai herdou a coragem.É caçador ardiloso, cheio de expedientes, é filósofo e sofista, mágico e feiticeiro, nunca está nem na penúria, nem na opulência. Está sempre entre a ciência e a ignorância, passa sua vida a filosofar, procura sempre o que é bom e belo, está à cata da felicidade.

Sua maneira de agir é gerar na beleza, segundo o corpo e segundo a alma, gerando corpos na harmonia e na beleza, procurando ansiosamente a beleza da alma. O objeto de sua procura é a posse perpétua do que é bom. Não quer prolongar-se somente em uma existência perecível.
O Amor tende à imortalidade, busca a incessante renovação.

Quando procura a glória, quer a eternidade imperecível.
Quando busca a felicidade, quer a totalidade no tempo e no espaço.
Nesta vida, alcança a felicidade por degraus, passando dos bens inferiores aos bens superiores.

Seu termo é a revelação do Belo.
Quando tiver contemplado as belas coisas, umas após as outras, seguindo sua ordem exata, subitamente, se achará diante da beleza suprema! Beleza de natureza extraordinária,
razão de ser de todos os esforços que tentou até então!

Beleza que, em primeiro lugar, é eterna, que ignora a geração e a destruição, o aumento e o decréscimo. Que não é bela em parte e feia em outra, bela para os olhos de alguns e feia para outros, já que não se apresenta como as outras belezas corporais, com um rosto, com mãos, com um corpo, nem como discurso ou um conhecimento, nem encarnada em um ser determinado,
que existia no céu ou na terra.Devemos representá-la como existindo em si mesma,eternamente unida na unidade da forma, unidade rica e indivisível, ao passo que outras belezas dela participam.
Não a atingem as vicissitudes por que passam estas belezas...

A partir das belezas desse mundo, como por degraus, passando dos belos corpos às belas ações,
das belas ações às belas ciências, chega-se, finalmente, ao conhecimento desta Beleza, chega-se à posse da realidade bela por si mesma.

Eis o termo da vida humana.
Para atingir este ponto vale a pena ter vivido!
Chegar à contemplação da Beleza em si mesma, Beleza que te transportará mais do que qualquer outra, beleza pura, sem escória, sem mistura, o belo divino, na unidade de sua forma!

Ao contemplá-la o homem homem torna-se capaz de gerar não somente imagens de virtude
mas o bem verdadeiro!
O homem torna-se caro aos deuses e atingem a imortalidade!

Platão