quinta-feira, 18 de junho de 2009

Dançar é impregnar corpo de sentimento, é dar-lhe expressividade.

Nas expectativas do pobre ego vivemos à função do Ter em detrimento do Ser e por isso muitos de nós vivemos na superficialidade e na pobreza de emoções e sentimentos. O Ter não nos preenche o coração, não faz tranquilizar e nem traz paz a nossa conciência. O ter um corpo belo, dentro dos padrões ocidentais atuais, é uma tortura psíquica para muitas pessoas ao redor do mundo, cumprir estas expectativas traz inseguranças que são muito bem elucidadas numa entrevista do jornalista Silio Boccanera com a psicanalista Susie Orbach que entre tantos pensamentos ela afirma: "...o corpo está se tornando um meio de desestabilizar a mente. Preocupações relativas ao corpo se tornaram tão importantes que inseguranças emocionais foram provacados por questões referentes a ele." A dança vem nos mostrar o potencial do corpo em produzir beleza, dizer o quanto a linguagem corporal é cheia de expressividade e significados.
Dançar é impregnar o corpo de sentimento, é dar-lhe expressividade, dar ao corpo novos significados de existência, encher-lhe de vida. E ao dançar com esta verdade, reconhecendo nossas potencialidades e limitações, sensibilizamos outras vidas outros corpos, tocamos nas emoções e sentimentos, podemos preencher, por vezes, o vazio que a insegurança traz.
No entanto, bem sei, que isso é apenas uma ideologia, utópica talvez, que na realidade os próprios profissionais da dança vivem na opressão do padrão de beleza : corpos magros e esguios, requisitos minimos para a dança clássica, o ballet. Esse é só um exemplo porém todos gêneros de dança tem o seu padrão corporal, alguns mais flexiveis, outros nem tanto.
Mas a reflexão que desejo deixar aqui é que esses requisitos, esses padrões corporais não pertencem à dança, à técnica artistica talvez, mas a dança não é apenas técnica, assim como nenhuma linguagem artística se reduz a técnicas. As técnicas são meios para chegar ao objetivo maior da arte que é de expressar através duma linguagem própria, emoções, sentimentos, pensamentos e idéias. As técnicas são flexíveis, e assim devem ser para atender todas as formas e maneiras que o ser humanos tem para se expressar através da arte, e por isso mesmo as técnicas da dança devem ser flexíveis para todas as fromas corporais existentes. Não é o corpo que deve se adequar a técnica, mas sim a técnica deve se adequar aos corpos, porque todos os corpos traz em si uma beleza subjacente que só as artes são capazes de revelar.
Por último quero deixar aqui dois vídeos de dança que me emocionam muito, que me faz crer numa arte que esta além do espetáculo, que me faz crer numa arte que realmente toca e modifica vidas.
One Last Dance
Amelia

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Arte = Lazer ?

Sempre relutei com esta idéia de que o fazer artístico tem como objetivo principal divertir as pessoas. Não que se divertir, ter momentos de lazer, não sejam importantes na vida de uma pessoa, mas creio que dizer que isto, somente isto, é restringir a função das artes, de existir na sociedade.

E essa relutância idelógica veio desde do início de minha formação artística. Meu pai dizia para estudar piano apenas para hobby, para o meu lazer, para que escolhesse outra profissão mais "requisitada" e importante, preferencialmente a dele: médico. Nunca aceitei.

Na verdade eu não acredito que a real função dos artistas é apenas se apresentar nos teatros, nos museus, nas salas de concertos, para o bel prazer das pessoas. Esta além. Esses locais neutros e esses momentos de entreterimento são apenas o primeiro instante, o primeiro passo para que as artes possam concluir sua função: a de humanizar os sentidos.
É isso que tenho para mim, é para isso que pretendo ainda "viver arte".

É necessário se escandalizar, se sensibilizar.

Hoje de manhã indo para o trabalho ouvindo a rádio CBN, o repórter Alexandre Garcia fez o seguinte comentário: "...os motoristas (no Brasil) matam mais gente do que o avião da AirBus por dia..." e conclui "e a gente não se escandaliza". Antes dessa fala o repórter propõe uma reflexão aos ouvintes mais atentos quando disse, não exatamente com essas palavras, que é necessário cair um avião matando 228 pessoas para sensibilizar a população sendo que há 217 pessoas por dia morrendo no trânsito brasileiro,e isso não sensibiliza mais as pessoas...se tornou, tão comum, tão banal, corriqueiro, que não reparamos mais, não nos sensibilizamos.
E por isso adorei essa conclusão que o Alexandre Garcia chegou: "a gente não se escandaliza"! Como não nos escandalizamos para tantas outras coisas que acontecem "cotidianamente": a morte e sofrimento pela fome, pela guerra, pelas violência urbana e rural, pela desigualdade social, pela cobiça do dinheiro e poder...e tantas outras mazelas que nos tornamos insensiveis, que nos incapazes de ter compaixão por essa sociedade doentia que vivemos.
Por isso que acredito que nós artistas temos uma obrigação moral com a sociedade: sensibilizar para a compaixão, sensibilizar para a confraternização e sensibilizar para o Amor.
A partir dai, deste momento que nos concientizarmos desse objetivo social da Arte e dos artistas é que podemos reconstruir uma sociedade mais harmoniosa em sua relação intima, mais sensiveis nas relações pessoais e mais fraternas nas relações interpessoais.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

"Não há beleza em nenhum tecido se ele causar fome e infelicidade"

Não há somente uma visão, um único caminho, um único sentido, mas há de se considerar que essa frase dita por Mahatma Gandhi poderá vir a ser um dos principais pilares da arte. Essa frase sintetiza, de forma clara, a ligação que há entre a ética com a estética.

No entanto muitos de nós artistas , adminadores e consumidores de arte não chegamos a esse grau de consciência. Histórias como do fotógrafo Kevin Carter nos fazem refletir sobre o fazer arte com ética, a arte como instrumento de ajuda ao próximo e a si mesmo. No caso de Carter creio que ele tenha cumprido seu papel de e jornalista e artista ao sensibilizar e alertar sobre as atrocidades que acontece na África, mas só isso não bastou, os prêmios não bastaram...

No entanto continuamos um tanto acríticos no que se refere ao fazer artístico.Como podemos achar a beleza nas roupas produzidas por uma empresa "da moda" sabendo de situações como esta relatada na reportagem - http://migre.me/1Sku ?

Ou ainda a instalação do artista Guillermo Vargas da Costa Rica quando este deixa em exposição um cachorro morrer de fome em Managuá, Nicarágua e depois foi convidado a representar a Costa Rica na Bienal Centroamericano de Honduras 2008.

Boicote à artistas ou obras de artes que não seguem alguns "padrões éticos"? Creio não ser essa a solução. Mas se há um senso comum que a situação do mundo está chegando ao caos nos valores de convivência e que se não mudarmos nossa maneira de ser e agir no mundo as coisas podem piorar, será que as linguagens artísticas e nós artistas não temos uma função fundamental na construção de um mundo mais ético, mais solidário, mais feliz?